Hoje lembrei-me deste espaço, hoje lembrei-me o quanto ele é meu. Aquele espaço de desabafo, de colocar em palavras aquilo que sinto.
Hoje sinto a necessidade de escrever, não para alguém ler, mas sim para transformar em palavras o sentimento. Talvez sinta mais leve por isso, talvez o peso que tenho em mim se desfragmente.
Há tempos ouvi a expressão "eu devo estar a colher a lavoura de alguém". Nunca na minha vida esta expressão fez tanto sentido em mim, porque apesar de nunca ter feito mal a alguém, nunca ter desejado mal a ninguém, sinto que a vida está a colocar-me à prova de uma forma dura.
2020 começou bem, começou em pleno. Muitos sorrisos, com uma boa forma física e o trabalho a tomar um rumo mais certo. O vírus entrou, um novo amor surgiu e, embora sentisse que o trabalho iria se tornar num grande ponto de interrogação, tudo o resto corria da melhor forma, podendo se tornar a base que me iria amparar. Em grande parte daquilo que senti há 5 meses atrás, não se viria a realizar.
Hoje, Dezembro de 2020, o amor fez-me perder uns bons quilos devido à queda que dei, o vírus tirou-me a possibilidade de continuar a carreira, em Setembro tive uma grande crise ciática que quase me impossibilitou de andar, e há umas semanas atrás foi-me detectado no joelho direito uma Condropia grau 3. Embora a hérnia que tenho esteja controlada (controlada, não tratada), o joelho é aquele que me deixa mais assustada. Não estou proibida de correr, mas sinto que tenho que parar. Não sei se vou voltar à forma que estava, nem sei se voltarei a fazer aquilo que mais gosto de fazer (correr longas distâncias). Aquilo que sei é que neste momento tenho que fazer um grande e poderoso trabalho de reforço muscular.
Hoje adiei aquilo que tinha planeado fazer em 2021. Adiei compromissos com amigos, adiei a prova que tanto queria fazer. Adiei com a incerteza de um dia virar realidade.
Não quero de todo baixar os braços nesta fase, não quero de todo fraquejar mas por vezes é difícil manter o pensamento positivo. Fraquejo hoje mais que nunca (daí ter-me voltado mais para aqui). Não me sinto orgulhosa disto, sinto uma enorme tristeza por tudo isto que me está a acontecer, sinto-me muito assustada. Assustada porque é inevitável não sentir que isto veio para ficar e não se trata um susto, de um alerta do corpo. Tento manter-me optimista, mas é tudo uma questão de fases, tudo uma questão de minutos, porque há um treino para fazer, há um currículo para mandar, há uma pesquisa para fazer, há um livro na estante para ler. Quando tudo isto acaba, quando já não exijo nada de mim a ficha cai, é aí que a dor psicológica vem ao de cima. Tento ser forte, mantendo um foco, colocando em mim uma meta. Estou numa fase que está a ser difícil concentrar-me nesse foco e de lhe dar a devida importância.
Quero ser forte, quero manter a esperança de que depois da tempestade, o sol tornará a aparecer.