quinta-feira, 3 de março de 2011

Hoje deu-me para isto...

Ainda me lembro da última noite antes de vir para Évora.


Eu, com o cabelo comprido, um ar mais menina e um pouco mais gordinha, o meu irmão com um ar muito miúdo, a minha mãe com menos umas rugas e o meu afilhado muito, mas muito mais pequeno e com muito mais bochechas.
Esta é a fotografia que marca a passagem do tempo deste que vim para Évora.
Não me lembro de estar receosa, lembro-me de estar ansiosa de viver o desconhecido que por aí vinha. Foi um jantar de despedida embora estivesse de volta logo na semana seguinte.
Hoje que olho para trás, e vejo no quanto de cabeça eu encarei a minha saída de casa.
O não recear o que por aí vinha, o à vontade para tudo o que me estava a acontecer e o querer dar esse passo sem pensar muito nas suas consequências, foi o que me levou a vir sozinha, sem conhecer ninguém para Évora.
Tinha ouvido falar nas tais praxes e na vida académica que esta cidade tinha. Pensava que o mês e meio de praxes não passava tudo de meros boatos e que os estudantes tinham mais que fazer do que aturar os mais novinhos durante tanto tempo.
O que é certo é que esse tempo aconteceu mesmo!




As praxes começaram em grande, os senhores estudantes sempre atrás de nós, com as suas ordens e maus feitios.
Sei que não fui um bicho que tenha dado muito trabalho. Fazia sempre aquilo que me pediam, cantava umas músicas, nunca faltava às chamadas e ficava tudo bem.
As saídas à noite eram uma constante. O Estado Líquido passou a ser a nossa terceira casa e assim continuaram as praxes. 
Durante esse mês e meio nunca estavamos sós. Ningué se conhecia, mas inconscientemente estavamos a conhecer-nos. Durante esse mês e meio a nossa turma esteve sempre junta, tanto nas aulas como nas borgas. 
Os trupes que saiam à noite eram sem dúvida uma realidade assustadora. A primeira que apanhei adorei, a segunda odiei. Ainda me lembro quando os senhores estudantes andavam à minha procura quando souberam que eu tinha saido de casa na noite proibida. Raivosos andaram à minha procura, mas sem exito. Com muita sorte minha não conseguiram apanhar-me. Sei que não iria ser muito agradável se isso acontecesse mas o facto é que não aconteceu e eu senti-me bastante aliviada quando me encontrei na minha cozinha a receber os telefonemos dos senhores estudantes.
Lembro-me das festas das espumas, dos karaokes e das tardes no Manel dos Potes.




A aula de praxes entretanto chegou. Dia que começou pouco agravável com umas mistelas que mais parecia comida de pássaro e um alhinho para que ninguém chegasse perto de nós.
Mais uma pasta verde para cima da cabeça e estavamos prontos a começar o dia.
A chuva e a lama que entretanto se gerou deram asas à imaginação para jogos sem fim.
Como este dia já foi para o final das praxes, apesar de ainda nos obrigarem a manter uma certa distância entre nós e os senhores estudantes, essa formalidade em algumas alturas não fazia sentido. Nesta altura, muita coisa já se tinha passado juntos.


Todos porcos, a minha família académica aqui se apresenta.


Tudo está bem quando acaba bem.
E foi assim que aconteceu nas minhas praxes. Estas acabaram com uma surpresa prepara pelos senhores estudantes. Chouriços, pão, guitarras, convivio e uma fogueira deram vida aos cromeleques de Évora.
Protegidos pelo frio, a noite virou dia e com caras ensonadas, ali, deixámos de ser bichos para estudantes vir a ser.
Ainda a restabelecer de toda a agitação de ser bicho da Universidade de Évora, logo veio outra surpresa:


O testemunho do meu curso, aquele objecto que tem vindo a passar de ano após ano deste de pelo menos de 1987, estava aqui em casa!
Depois de começarmos o ano a viajar, estas foram uma constante nas nossas vidas. Fosse Verão ou Inverno, o que interessava era o convivio e estarmos juntos. Assim, surgiram vários destinos: 
Alhambra


Sevilha

Monsaraz



Porto
Estando eu no curso de Arquitectura Paisagista, as noitadas para a disciplina de projecto também se fizeram sentir. Igualmente juntos, o quartel foi nessa altura a nossa primeira casa.
É tão bom recordar aquelas horas críticas onde a parvoice reinava e onde naquele momento era o descanço geral. Estes momentos normalmente chegavam por volta das 5h da manhã e duravam cerca de 15 minutos. As mesas eram o palco, o que viesse à mão era o microfone e a cantoria estava feita. Ali cantava-se tudo menos coisas decentes. Era a coreografia da Floribela, era o Justin com a sua dançarina, era tudo aquilo que nos apetecesse. Aquele momento era apenas nosso. Aquele momento reinava tudo menos o bom senso e a racionalidade.
Depois disso, o trabalho era a nossa visão , o nosso pensamento e todos os nossos gestos se concentravam nele.



Com o sentir da responsabilidade, chegou entretanto outra.
Aquela que se sentia fisicamente nos ombros e que até então não nos largou.
A noite em que pela primeira vez trajamos.



Tudo nesta noite brilhava, tudo nesta noite era novo.
Foi estranho ver-me vestida com algo que, até vir para Évora era impensavel comprar. Mas mal comecei a sentir o que se vivia nesta cidade como estudante, foi aquilo que eu mais quis adquirir e usar. Esta noite foi mais um passo. Aqui, mais uma vez estavamos juntos, mais uma vez estavamos a sentir juntos o nosso crescimento nesta universidade.
Como a vida não é para estar parada, do nada e sem aviso prévio, Coimbra foi o nosso destino:


"Hoje são as serenatas em coisa."
"Ah, está bem!"
"Vamos?"
"Vamos?"
"Vamos!"
E arrancamos!

Jantares semanais era aquilo que tinhamos como certo. Frequências a passar, stresses de projecto a aguentar, mas tudo se passava, tudo passava.
As Tunas eram a música que passavam nos nossos jantares e só elas fazima sentido que existissem ali.
Cantavam aquilo que estavamos a viver.

 

Com vocês percorri a Europa.
Nunca pensei em fazer um inter-rail, nunca pensei que o podesse fazer, nunca pensei que na minha vida isso podesse existir.
De entre inumeras sensações e visitas, de entre variadas culturas, vivemos com intensidade cada momento, cada oportunidade que a vida nos dava.






Depois desta grande viagem, chegamos a Évora e as boas vindas demos aos nossos bichinhos.
Aquele momento tão desejado, estava ali, mesmo à nossa mão.
Um grande nervosismos e o grande peso da responsabilidade estava diante nós.
Sabiamos aquilo que podiamos e o que não podiamos fazer. Sabiamos que à nossa frente estavam pessoas que pouco ou nada comeciam Évora e como tal, era esse o nosso foco. Fazer as apresentações, tanto do curso, como daquilo que se vivia e o mais importante, como a turma e a amizade são fundamentais para que possas vir a ser alguém na vida.


Olhando para esta fotorafia, vejo grande diferença. Os miúdos que nos apareceram há três anos atrás e as pessoas um pouco mais responsaveis que hoje se estão a tornar.
Deste essa altura que nos apercebemos que tivemos grande sorte nas pessoas que esse ano tinham entrado para Arquitectura Paisagista. Não é facil aguentar tanto tempo submetido a ordens e a telefonemas indesejados. Mas também sabemos, hoje, que menos tempo não faria sentido. Nesta fotografia não estou em erro se disser que ninguém é de Évora, logo, é importante o tempo de os obrigar a interagir como turma para que assim consigam manter-se nesta linda cidade. Aqui, nesta fotografia, estava a nascer uma grande família do qual cada qual pode contar uns com os outros.


Claro que a alua de praxes também existiu e, inspirados num desenho animado, fizemos dos nos bichinhos, animais de uma quinta.


Calhou-me na rifa duas Ritas, das quais adoro muito e admiro bastante.
Turma extremamente únida cedo se viu.
Responsaveis mais também sempre conhecendo o lado bom da vida, aproveitaram a vida académica de forma equilibrada.
Este ano foi a vez deles praxarem e claro, estava lá para ver!


Lindos de morrer, os nossos lapis estavam tão coloridos que se viam por toda a Évora.
Tal como era de esperar, a família cresceu:


Sou avó!

Olhando para este percurso, sinto um misto de sentimentos.
Sei que esta minha temporada por Évora está acabar, sei que o que sinto hoje é completamente diferente daquilo que sentia há um atrás e também sei que nada se perde, tudo se transforma.
Não desejava que o tempo voltasse atrás. Mas sinto saudades daquilo que vivi.
Sei que há coisas que irão passar mas que o sentido que tinham jamais voltaram a ter.
Sinto que o meu tempo em Évora está a acabar e com isso vem um vazio, vem uma perda.
Amei o tempo que estive em Évora, amei os amigos eternos que fiz e que graças a eles tornei-me aquilo que hoje sou.
Obrigada àqueles que me aturaram nos meus devaneios, tristezas e alegrias, na minha paz e stress.
Obrigada à pessoa mais importante da minha vida, que sem ela não poderia escrever aquilo que escrevi a tarde toda e que me proporcionou  a época mais feliz da minha vida! Que me deu a conhecer pessoas espetaculares e a viver momentos únicos.

1 comentário:

Licas disse...

Reki :)

A vida, se é que sabemos algo dela, é uma intrometida, uma menina cheia de manias e vontades e nós, actores da sua arte temos de seguir o seu baile... A eternidade existe. É real. Para mim, e sei que para ti também, os momentos em Évora são parte disso. O tempo passa mas não apaga. O que passámos, a família feita de alegria e verdade fica. Mas é inevitável seguir, continuar o caminho. Segue Amiga minha! Sorri e deixa ser...

GOSTI***