Fiel ao lema "Navegar é preciso; viver não é preciso", que ele adaptou para "Viver não é necessário, o que é necessário é criar", Fernando Pessoa consagrou a sua vida à criação literária, movido por um constante interroga(-se), em que a investigação filosófica se combinava à emoção. Desde cedo, ele se definiu: "um poeta impulsionado pela filosofia, não um filósofo dotado de faculdades poéticas". Gesto lírico impregnado de raciocínio, cada poema seu é palco de certo teatro, onde ele encena a interminável busca da sua identidade. "O poeta é um fingidor", ele o garantiu. E demonstrou-o, em toda a extensão.
A ideia da poesia como "fingimento" ou teatro conduz naturalmente à criação de heterónimos, personagens de ficção, seres que poderíamos ver no palco ou nas páginas de um romance. E isso define uma estratégia geral de criação literária: tudo ou quase tudo o que Pessoa escreveu é heteronímico, incluindo aquela parte da obra que ele assina com o seu nome de baptismo, e à qual se refere, não sem ironia, como "ortónima", ou da autoria de "Fernando Pessoa ele-mesmo". Na verdade, outro ser de ficção, tão alheio ao cidadão Fernando Pessoa, ou tão próximo deste, quanto qualquer dos heterónimos.
Pessoa não é um poeta que apenas agrada, que desperta interesse ou curiosidade; também incomoda e fascina, como um polvo de mil tentáculos, "plural como o universo", que se agarra à sensibilidade do leitor, e este não consegue, nem quer, desenvencilhar-se. E todos acabam por perceber, ou ao menos intuir, que a instigante ficção dos heterónimos revela a realidade que nos constitui, hoje, para além de toda ilusão, com mais lucidez do que o divã do psicanalista, o confessionário, a autoanálise ou qualquer outro caminho que busquemos, no encalço do auto-conhecimento e do conhecimento do mundo.
Por isso, enquanto não surgir outro poeta que nos ofereça, deste nosso tempo conturbado, uma visão mais lúdica e mais insubmissa, Pessoa continuará a nos comover e a inquietar. Até lá, o melhor que temos a fazer é desfrutar de oportunidades como esta, de viajar - olhos e ouvidos atentos - pela vida e a obra, ou a obra-vida, desse poeta português e universal, que há muito é, também, por adopção e amor, o mais brasileiro dos poetas portugueses.
Foi com estas palavras que a exposição de Fernando Pessoa na Fundação Calouste Gulbenkian teve início.
De um orifício conseguia-se ver, não só o movimento da exposição, mas também a figura da pessoa a retratar.
Começou com a história, palavras e imagem dos seus vários heterónimos. No meio desta exposição baloiçava a cadeira, a mesa, o café, o "Orpheu" e o seu chapéu em frente à sua imagem. O quadro de Almada Negreiros foi algo que estava presente, vivo e único colocado numa parede.
Seguiu-se a sua biografia bem como alguns artigos escritos por ele. A morte do seu pai, um novo casamento, novas irmãs bem como a sua morte. O surgimento de Ofélia Queirós bem como os inúmeros negócios que foram surgindo ao longo da sua vida.
Por fim, e já na última sala, alguns dos seus poemas iam aparecendo desenhados na areia bem como alguns livros estavam ao nosso dispor.
No centro desta sala, estava colocada a arca onde, depois da morte de Fernando Pessoa, no seu interior foram descobertos cerca de 25 mil poemas que, aos poucos, têm vindo a ser do domínio público.
Para além da arca, estavam também expostos os últimos poemas escritos por Alberto Caeiro, Fernando Pessoa e Ricardo Reis.A arca |
Esta exposição tem lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, até dia 30 de Abril de 2012.
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