terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uma passagem pelo livro que li


Já há algum tempo que ando para ler o livro do Pacman, "Um outro amor: diário de uma vida singular" oferecido pela minha amiga Sandra, já que eu sou grande fã das suas letras e das suas palavras sem papas na língua.
Estava expectante baseando-me naquilo que conhecia das letras e das abordagens que faz em diversos assuntos da actualidade.
Na minha opinião, é um livro que se lê bem, tem dentro de si pequenos textos, com uma linguagem própria e com uma visão particular.
Para mim é UM livro, não O livro.
Hoje terminei-o e gostaria de partilhar um texto que mais me impressionou:

(A educação de) Rita
As primeiras memórias que tenho da Rita remontam ao secundário. Na altura sobressaía de entre os alunos por ser das poucas pessoas que não iam atrás dos vários rebanhos que pastavam pela escola: não era beta, punk ou heavy, não era "vanguarda" (bem, talvez um pouco): era a Rita. Bonita. Muito. Inacessível. Eu era quatro anos mais novo: no secundário, significavam décadas. Algum tempo mais tarde, porém, viria a encontrá-la na noite do Bairro Alto. Ela riu-se e achou piada ao puto que entretanto crescera. Falámos, dançámos. E falámos de novo. Até chegar àquele momento inevitável em que parámos. De falar, de pensar. E surgiu o beijo. O primeiro entre muitos. Namorámos cerca de quatro anos. Aprendi a ler doutra forma, a ver cinema de outra forma. Aprendi a gostar de uma pessoa a sério, também. Mais tarde, percebi que, como se se pode apaixonar, também se pode perder essa paixão. Acabámos por ficar amigos, mas, com o passar do tempo, seguimos por caminhos diferentes e fomos deixando o nosso contacto resumir-se a um telefonema rápido ou um sms em Natais e aniversários. Porque não havia tempo, por isto e por aquilo. Por merdices.
Há dois dias atrás recebi um telefonema que me deixou destroçado. A Rita morrera na véspera. Foi-lhe diagnosticado um cancro que se revelou em fase terminal, e, segundo me foi dito, fez questão que ninguém, para além da família, soubesse. Orgulho ou altruísmo corajoso, um deles ou os dois ao mesmo tempo, só ela o saberia dizer. E despedi-me da Rita com um beijo no velório e em pensamento no funeral. Gostava de o poder ter feito doutra forma, noutra altura e noutro lugar. Dizer-lhe que foi e continuará a ser uma das pessoas mais importantes da minha vida, apesar do nosso afastamento, que agora dói. Muito. Agora, digo-te que me deixaste uma última lição que pensava saber de cor, até vê-la aplicada, de facto.

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