quinta-feira, 7 de novembro de 2013

E não é que é mesmo verdade!!

Os amigos cada vez se vêem menos. Parece que só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos é que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.
Nesta semana, tenho almoçado com grandes amigos meus, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.
Nada falha. Tudo dispara como se nos estivesse - e está - na massa do sangue: a excitação de contar coisas e a alegria de partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há décadas por realizar.
Há grandes amigos que tenho a sorte de o serem que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição.
Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se sempre que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, é como se nos tivéssemos visto ontem. Mas, mesmo assim, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar.
O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela existe.
Somos amigos para sempre, mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida.

De Miguel Esteves Cardoso, tirado daqui

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