Ontem recebi uma notícia que me deixou abalada, pois é algo pouco agradável, mas que vou ter que me habituar a ela. Por outro lado, sinto que vai ser a primeira de muitas.
Desde que abri o meu negócio, grande parte dos meus clientes são idosos, reformados. Pessoas que passam o dia, ora no café, ora na papelaria, ora no banco do jardim. São dias vazios, sem muitas novidades, falando de tudo e de nada, cambaleando de um lado para o outro.
Há uns meses atrás, apareceu-me um cliente idoso, reformado e viúvo. Notava-se pela seu ar e pela sua postura que era uma pessoa triste. Triste porque, pelo que ele dizia, o seu grande problema era a viuvez. Pelo que me apercebi, a sua relação com o filho não era a mais saudável e a ausência da sua mulher era aterradora. Muitas vezes apanhei-o a desviar flores do jardim da frente para colocar perto das cinzas da mulher. Com esta realidade foi fácil a entrega deste homem ao álcool e ao tabaco.
Vinha ao meu café quase todos os dias, a seguir à hora do almoço, e ficava aqui até a meio da tarde, pois aproveitava o ambiente calmo para dormir o seu sono da tarde. Por esta característica eu tratava-o com carinho o Soneca.
Ontem soube que tinha morrido essa manhã.
"Fogo, mas ainda na Quinta-feira teve aqui!"
É certo que ultimamente ele não andava bem, mas isso não determinava o seu fim já.
Por um lado ainda bem que assim foi, pois era um homem que evidenciava a sua espera sofredora pela morte, para ir ter com a sua amada. Notava-se a sua solidão a corroer-lhe a alma. Por outro lado obviamente que fiquei triste, pois gostava de o ter por cá.