sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A polémica dos sacos de plásticos

Muito se tem falado da nova cobrança que o governo impôs quando levamos um saco de plástico do supermercado, ou de outra loja qualquer. Dez cêntimos não é dois cêntimos, como já pagávamos anteriormente. A diferença de oito cêntimos faz com que os portugueses pensem duas vezes antes de pedirem um saco de plástico na caixa do supermercado para levar para casa.
Pedir dez cêntimos por um saco, não me escandaliza e penso que esta medida só peca por tardia. O saco de plástico é altamente poluente para o planeta e só assim, tocando na nossa própria carteira, é que conseguimos diminuir o número assustador de sacos consumidos anualmente. Talvez seja através desta medida que os sacos de pano voltem a fazer parte do dia-a-dia dos portugueses, quem sabe!
E falando dos sacos, esta semana, com a Revista Visão, o Ricardo Araújo Pereira fala-nos exactamente deste tema. De uma forma irónica e em tom de brincadeira, este humorista, escritor, jornalista, e mais qualquer coisa, descreve esta realidade fazendo uma analogia com a situação que hoje se vive em Portugal. Aqui vai o texto:

Cobrar dez cêntimos por cada saco de plástico, nos supermercados, talvez contribua para salvar o ambiente, mas a grande medida ecológica já tinha sido tomada: fazer com que os portugueses não tivessem dinheiro para comprar aquilo que depois se transporta no saco de plástico. É um facto comprovado que as pessoas usam muito menos sacos de plástico quando não têm o que pôr lá dentro. Ao longo dos últimos anos, os portugueses têm sido mesmo muito amigos do ambiente. Tendo em conta o seu poder de compra, conseguem ir às compras de pochete. E ainda sobra espaço.
Quem tenha acumulado sacos de plástico, no tempo em que eram gratuitos, possui agora uma pequena fortuna. Sacos que não valiam nada, de um dia para o outro passaram a valer algum dinheiro. Exactamente com as acções do BES, mas ao contrário.
Muitas pessoas afeiçoam-se a coisas como sacos de plástico e depois têm dificuldade em lidar com a perda. Uma medida que abale o regular usufruto dos sacos de plástico pode perturbar mais a vida destas pessoas do que um corte no salário. Refiro-me, por exemplo, às pessoas que guardam bugigangas em gavetas enquanto dizem, com uma certa volúpia, "isto pode dar jeito". Isto é alta sociologia, como o leitor bem sabe. Este tipo de pessoas existe mesmo, e há uma possibilidade grande de o leitor pertencer ao grupo. Eu, infelizmente, não pertenço - até porque sou um desses indivíduos que "nem para si é bom". Depois, apresentam-se-me situações em que me davam jeito certas coisas, mas infelizmente não tive o discernimento de, na altura própria, as guardar numa gaveta. Deve consolar-nos o facto de estas pessoas terem guardado tantos sacos, ao longo do tempo, que só terão de dar 10 cêntimos por um em 2025. Quando eu era pequeno, a minha avó levava o seu próprio saco para ir às compras. Creio que era uma prática comum: toda a gente levava o seu saco. A minha avó não lhe chamava saco, porque era de Viana do Castelo, e do Douro para cima os sacos mudam de género e passam a ser sacas. Regressamos agora ao tempo em que se vai de saco para o supermercado. Curiosamente, em alguns aspectos o mundo foi mudando de volta para aquilo que a minha avó achava que o mundo devia ser. Espero sinceramente que o mundo pare de fazer as vontades à minha avó. Se o mundo continuar a transformar-se naquilo que a minha avó gostaria que o mundo fosse, mais cedo ou mais tarde serei obrigado a levantar-me cedo. E a arranjar um emprego sério. Isto das sacas chega.

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