quinta-feira, 29 de março de 2012

A questão da construção das barragens

São poucos os dias que vejo o telejornal mas quando vejo a minha alma fica parva com as coisas que naquele programa oiço. Na penúltima vez que vi, Passos Coelho dizia que em termos económicos Portugal estava melhor de quando começou o ano de 2012. Enquanto ele defendia esta afirmação questionava-me com o aumento do desemprego, aumento da desconfiança política, do aperto financeiro de cada família portuguesa, cada vez mais pessoas pobres, cada vez menos emprego, menos estabilidade financeira e os jovens com cada vez menos oportunidades de trabalho. Perante esta realidade cada vez mais aguda, pergunto-me, onde estão as melhoras de Portugal?
Ontem voltei a ver o bem dito telejornal e eis que não quando oiço um produtor de arroz em Coimbra a dizer que este ano a produção de arroz não fica comprometida por falta de água, mas que não poderá haver um ano igual a este, de seca. Até aqui muito bem. Mas de repente, começa com um discurso que defende que não podemos olhar para os mortos, não podemos olhar para o passado, temos que olhar para o presente e o que se deve fazer são barragens, muitas barragens, para assim poder continuar a produzir sem problemas de água. E para culminar só faltava fazer um grito de guerra: que se façam barragens pelos nossos rios a fora!
Quando acabou esta parte do telejornal estava completamente escandalizada com esta intervenção de um produtor que literalmente não olha a meios para atingir os seus fins. 
A sorte dele é que não me lembro o seu nome porque este passou no início e no início o seu discurso tinha sentido.
Mas meu caro produtor de arroz, sabe quais as vantagens e desvantagens das construções das barragens? Diz que não podemos olhar para o passado temos é que olhar para as necessidades de agora. Mas sabe que as construções das barragens comprometem o ambiente, compromete o nosso futuro? Posso dar-lhe agora daquilo que a construção de barragens produz:
Aumenta o Dióxido de Carbono; 
A reprodução de alguns peixes fica comprometida, pois não encontram estabilidade para desovar;
Deixa de haver a continuidade dos rios provocando a sua seca;
Deixa de haver as galerias ripícolas com as sua fauna e flora característica;
Origina a instabilidade litoral que por sua vez origina as cheias nas praias que tão bem conhecemos;
O transporte dos sedimentos que alimentam os animais ao longo da linha de água fica comprometido;
Promove-se a erosão do solo;
Promove a contaminação das águas;
...
Senhor produtor de arroz, da próxima vez que tiver algum tempo de antena e resolver dizer alguma afirmação do género, estude melhor a lição, inclusive os pós e contras daquilo que decide defender. Não olhe apenas para o seu umbigo e em vez de pensar apenas no presente e nas SUAS necessidades, tenha uma visão a longo prazo, pois para além de vivermos inerentes a um passado, temos que cultivar o nosso futuro, temos que preservar o ambiente para assim podermos oferecer um futuro digno às gerações vindouras! A isto chama-se lutar por um futuro sustentável. Já ouviu falar? 

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