Há quem diga que os Call Center são o trabalho do futuro. Há mais empresas a recorrer a este tipo de serviços, a mão de obra não é cara e o trabalho aparece feito em grande escala, rápido e sem grandes chatices.
Trabalhar num Call Center significa, na sua grande maioria, estar constantemente a receber chamadas, escrever enquanto se ouve, ouvir o cliente enquanto temos o nosso chefe a falar atrás de nós, ter sempre o baralho de fundo das conversas alheias, ter sempre o tempo contado no intervalo, e por fim, e não menos importante, a exigência de cada chamada, ou seja, sermos educados mesmo que nos estejam a mandar para um sítio qualquer.
Eu já estou na minha terceira experiência de Call Center.
A primeira foi em vendas, no qual éramos pressionados a vender, vender, vender. O lema era não mentir ao cliente mas poder omitir informação importante. Isso, para mim era o inferno. Impingir um produto com fidelização de dois anos a pessoas que mal tinham dinheiro para pôr comida na mesa era o inferno. Na altura fui transferida de campanha, pois num mês fiz o mesmo resultado que algumas pessoas faziam num dia. Nesse Call Center, quando me preparava para marcar as minhas primeiras férias foi despedida.
Na segunda experiência foi para dar assistência às lojas. Pareceu-me mais leve. Não percebendo o porquê, não passei na formação. Acho que nessa altura nem a própria formadora percebeu. Foi um mês de formação intensiva sem ver um cêntimo de remuneração.
Na terceira experiência, a que estou actualmente, trabalho com empresas, fazendo agendamento de reuniões. Aqui tanto podemos levar com o bom humor dos patrões ou com a sua arrogância, há para todos os gostos.
Aquilo que em todos os Call Center existe é a repetição do diálogo (se em quatro horas atendemos duzentas chamadas, significa que tivemos a mesma conversa duzentas vezes), a exigência do vocabulário e da informação que devemos transmitir ou omitir, e os minutos contados pelo sistema (quando chegamos, o tempo de intervalo e a hora de saida).
Para além disto tudo, temos que "aturar" as partidas do sistema, ou seja, quando nos chamam chatos por ser a quarta vez que ligamos naquela semana. E quem é que ouve por essa insistência ou esse engano do computador? Nós.
Desde que conheço esta realidade tento ser mais simpática com as pessoas com quem falo. Quando me ligam duas e três vezes para a mesma coisa peço com calma para retirarem o meu número porque realmente aquela chamada não faz sentido. Tento sempre não ser rude ou antipática. Por vezes há pessoas que se esquecem que, aquela voz que está a fazer aquele trabalho de venda, questionário.... não é um computador. São pessoas como elas, que estão com uma pressão dos chefes em cima e que estão ali a tentar tirar o seu ordenado ao fim do mês.
Trabalhar num Call Center não é fácil, mas é melhor do que estar com o rabo no sofá sem fazer nada, há espera de dias melhores.
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