sábado, 25 de abril de 2015

Um lugar, um pensamento, uma questão...



Se o amor fosse o dos livros, acreditavas? Se o segredo desvendado fosse tudo o que era preciso, agarravas? Se não houvesse mágoa, rancor, se fossemos só de força e verdade, de respeito, certeza, bondade, pousavas a mão? Se os lugares bons das histórias fossem tudo o que ficava do caminho, se o princípio inocente e desprendido fosse eterno, todos os dias, de manhã, o primeiro lugar onde se acorda, de corpo perto, olhavas de frente? Se o mundo a gritar fosse mudo, e nós surdos também, confiavas? Sei de sitio em segredo onde as histórias começam. Longe da desilusão há lugares que nos guardam. Longe do medo há lugares onde nos guardamos, onde nos temos no nosso melhor, fotografados, como nos filmes. Se o amor fosse um sitio, um lugar, um quarto que sabíamos onde era, ias até lá? Se fosse um objecto pequeno, que coubesse na mão, uma pedra, um anel, uma semente, um livro antigo, uma carta? Se o amor fosse uma paisagem, um mar, um caminho, uma viagem, chegavas até ao fim? Se o fim não existisse, acreditavas? Se o amor fosse sempre uma página em branco, uma frase que se espreita, num livro, o silêncio da descoberta e um sorriso de chegada, olhavas para dentro? Se o amor fosse um beijo parado no tempo, um toque, uma canção, o passeio de um dedo num ombro nu, um sopro, uma dança, a parte quente dos corpos abraçados, a explosão... Se o amor nos falasse baixinho, como um amigo fiel, nos indicasse a direcção, nos acolhesse, nos abrisse os olhos, querias ouvir? Se o amor nos amasse, e fosse real? Se o amor fossemos nós também e eramos grandes e infinitos, mas humanos, mas fracos, mas feitos de perdão... Aceitavas? Sei de um sitio, em segredo, onde as histórias começam, e são eternas.

Texto de Tiago Bettencourt retirado daqui.

Sem comentários: