segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A imagem que irei ver cada vez que ligar o computador

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu delicadamente o principezinho, que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa.
- Vem brincar comigo - propôs o principezinho - Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo - disse a raposa - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o princepizinho.

Após reflectir, acrescentou:
(...)
- Que quer dizer "cativar"? - perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa - Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente. - disse a raposa - Tu não és ainda para mim senão um miúdo inteiramente igual a cem mil outros miúdos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo, a teus olhos, de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, - disse o principezinho - existe uma flor... eu creio que ela cativou-me...
(...)
- Se tu me cativares - disse a raposa - a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O teu chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá ao longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa nenhuma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
(...)
- Por favor... cativa-me! - disse a raposa.
- Bem queria - disse o principezinho - mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou. - disse a raposa - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa nenhuma. Compram tudo feito nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- O que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente. Tu primeiro sentas-te longe de mim, assim, na relva. Eu olharei-te pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia irás sentar-te mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
(...)
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho - eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis! - disse a raposa.
- Mas tu vais chorar!
- Vou! - disse a raposa.
- Então não sais a ganhar com nada.
- Ganho - disse a raposa - por causa da cor do trigo.

Pela simplicidade das palavras que transmitem uma grande história, uma grande verdade e que nos mostram o belo das pequenas coisas da vida, que sem darmos por ela, tornamo-las rotineiras, até mesmo banais. 
Um livro que tenho lido e lido e que nunca me canso de o ler. Em cada leitura, um novo significado, um novo olhar é descoberto. Por isso será sempre algo lembrado quando abrir o meu computador, muitas  vezes para tratar de coisas séries que me ocupam o dia-a-dia. Assim, ao vê-lo lembrar-me-ei que a vida é, para além dos seus actos, da sua rotina, ela também é a simplicidade, a beleza das relações, a paisagem e acima de tudo ela é aquilo que queremos que ela seja.

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