Há coisas que, por mais que nos informem ou falem sobre elas de uma forma banal, não parecem tão reais como de facto são. Este embate aconteceu-me ontem quando li um artigo de João Garcia na Revista Visão (nº 1192) desta semana.
Aqui em casa já se tinha abordado o tema da política e o que ela representa nos jovens de hoje em dia. Aqui em casa já se tinha abordado o facto de, uma parte da mudança política não acontece, muito devido ao desinteresse que os jovens têm em relação à política e aos assuntos do seu país. Ora porque emigram, ora porque não há confiança nos políticos, ora porque não querem saber mesmo e ponto.
Não deixo de concordar que a política, no nosso país, tem vindo a perder interesse, a perder credibilidade e o apoio que esta devia prestar aos cidadãos (e vice-versa). É desencorajador os impostos que somos obrigados a pagar (muitos deles não sabemos muito bem para que fim), quando no fim, olhamos para a televisão e ouvimos as palavras "desviou", "fuga ao fisco", "Banif", "sai do bolso de cada contribuinte"... É uma autentica injustiça, sim. É um abuso aquilo que fazem ao dinheiro que nos é tirado do ordenado todos os meses. Agora, e perante isto tudo pergunto-me, serão estes motivos válidos para descartarmos a política dos nossos interesses? serão estes motivos suficientes para abandonarmos o nosso direito ao voto? Na minha opinião deixei-a bem clara no texto que escrevi aqui. Penso que, se querermos que isto mude, temos que fazer alguma coisa por isso, e muito disso passa pela nossa ida à urna e votar com consciência.
Este texto veio a propósito do que li na Revista Visão desta semana, no qual, João Garcia escreveu:
"Nunca votei nem tenho paciência" e até acho que, se o fizesse, o voto "seria inconsciente", diz a estudante universitária de 20 anos. Ao lado, uma colega responde a uma pergunta sobre Marcelo Rebelo de Sousa: "já ouvi falar desse." Um futuro médico, ainda de 18 anos, mostra estar melhor informado. Se Marcelo lhe aparecer, sabe quem é?, pergunta o jornalista Sérgio Pires, do Diário de Notícias. "Reconheço sim. Mas nem sabia que ele estava a concorrer às eleições."
Podemos meter a cabeça na areia e achar que a culpa é do repórter que andou a escolher os entrevistados a dedo, só citando os mais desinteressados e desinteressastes. É o mais fácil e tranquilizador.
Mas também podemos acreditar que há aqui um sinal de que algo está a mudar. Que não, assegura Rui Oliveira e Costa, especialista em sondagens, pois a abstenção entre jovens sempre foi alta e sobre nas presidenciais. Talvez. Mas são cada vez mais os novos e menos novos que ficam em casa.
O que o trabalho de Sérgio Pires mostra é que o que todos sentimos: os problemas das sociedades têm origem em causas cada vez mais distantes e incontroláveis, a desilusão cresce, o desinteresse aumenta, os políticos e os cargos desprestigiam-se, a abstenção sobe. (...)
O debate, o que alimenta as discussões e aquece os ânimos na política, raramente tem a ver com a vida concreta das pessoas. São assuntos cada vez mais distantes, longe do dia a dia e dos problemas concretos, os que preenchem os grandes confrontos. A vida nos partidos está organizada de cima para baixo, com um senhor no topo da pirâmide e uma série de escolhidos instalados logo no piso abaixo. Juntos decidem o que interessa aos que vivem com os pés na terra. Entre uns e outros estão os representantes das corporações, digladiando-se para ver quem mais se aproxima do topo, mas unindo-se para evitar que os não instalados (sejam jovens, sejam desempregados, sejam imigrantes) entrem nas estruturas de decisão (e na vida organizada) à custa de privilégios dos que já lá estão. Não será por acaso que se defende muito mais o emprego do que o acesso ao trabalho.
De cima para baixo circulam as directrizes; de baixo para cima só viajam os votos. Por isso são cada vez menos.
(...)
Dia 24 de Janeiro de 2016, Domingo, há Eleições Presidenciais, com a possibilidade de uma segunda volta, dia 14 de Fevereiro.
Votem!
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